Você é um verso existencialista que eu não sei escrever.
Existe uma dor em viver porque a vida é circunscrita. O que a limita é o
absurdo, pois não existe sentido a ser encarado no mundo senão o que nós damos
a ele. E eu não ouço o seu mundo. Ele é mudo. Em preto-e-branco.
Eu insisto sobre o papel, como quem nasce e chora. O leite
escorre e pinga das minhas mãos. Existe fome entre os homens: alimentai-vos. E
nesse início no meio de alguma coisa que eu não entendo, tudo o que se cria é
fadado ao fim. Antes de eu ser, já era e vai continuar sendo depois que eu não
for mais nada. "Já era!", eu lhe digo.
O andar de cima é sempre mais escuro. Então eu desço a
escada com passos pesados. As janelas da sala estão abertas, aos poucos a luz
vai subindo pelo meu corpo até estremecer minhas pupilas. Que horas são? Corro
até a porta e abro com exasperação. Choveu. A grama está molhada. Chego até o
portão e antes de partir olho pra janela lá no alto: ele fita o infinito
através do vidro da janela até cerrar os olhos e se virar para o breu do
aposento.
A maçaneta girou lentamente às minhas costas. Abaixei os
olhos sobre o papel. A escrita estava incompleta, no entanto, àquela hora, quem
se importaria? Eu não podia ouvir seus passos, eu a senti se aproximar conforme
arrepiavam-se os pelos do meu corpo. Eu vi seu reflexo na janela: vestia
vermelho, como nos filmes encaixotados no porão. Ela pousou as mãos no meu
pescoço e eu fechei meu olhos enquanto virava minha cabeça em sua direção. Ela
me beijou.
Um comentário:
Hey, eu não sei como você não tem nenhum comentário até agora! Sou simplesmente fascinada por o que você escreve!!! Também escrevo sobre amor de vez em quando, mas jamais conseguirei chegar aos seus pés... parabéns!!!
Postar um comentário